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quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

A Controvérsia de Agostinho e Pelágio

A Controvérsia de Agostinho e Pelágio
                                                                                             
                                     Sua Vida e Conversão                                     
Agostinho nasceu em 13 de novembro de 354 d.C., em Tagasta, na África (hoje Argélia) e faleceu em 28 de agosto de 430 em Hipona. Foi um dos maiores pensadores da Igreja. Era filho de Patrício, homem de recursos, pagão, mas que se converteu nos últimos anos de sua vida e sua mãe Mônica, cristã que sempre dedicou a vida à sua formação, conversão e esperanças (ao filho), embora Agostinho tenha vivido dissolutamente e desregradamente até os 32 anos, quando ocorreu sua conversão. Fez os estudos secundários em Madauro em Cartago. Agostinho foi um aluno brilhante em Literatura, línguas e retórica (a arte do bem falar). Aos 17 anos ingressou na fase da imoralidade, teve uma amante, e com ela um filho chamado Deodato. Foi muito imoral e mulherengo. Em 386 d.C. aconteceu a sua conversão: estava um dia  pensando sobre sua vida  quando ouviu uma voz que dizia para ler a Bíblia e a leu em Romanos 13: 13-15 cuja leitura trouxe-lhe a luz que a sua alma não havia conseguido encontrar no maniqueísmo e nem no neoplatonismo. Separou-se de sua amante e abandonou sua profissão na retórica. Sua mãe morreu logo após o seu batismo. De volta a Cartago foi ordenado sacerdote em 391. Cinco anos depois foi ordenado bispo de Hipona. Até a sua morte dedicou-se ao ensino episcopal estudando e escrevendo. Até hoje ele é indicado como o maior dos pais da Igreja. Deixou mais de 100 livros, 500 sermões e 200 cartas.
                                  Obras de Agostinho
Uma de suas obras mais conhecidas são As Confissões, uma das maiores obras autobiográficas de todos os tempos, onde ele faz menção da sua consciência do pecado e da força do mal, evidenciados por sua vida imoral, que o levaram a clamar: “Dá-me a castidade e a continência, mas não ainda”. Essa necessidade só foi preenchida em sua vida pela sua experiência irresistível da Graça de Deus. Agostinho escreveu ainda Obras Filosóficas em forma de diálogo (nele procura demonstrar que a verdade completa somente vem pela revelação na Bíblia e não pelo estudo filosófico); Doutrina Cristã (é um manual que contém as suas idéias sobre a hermenêutica ou a ciência da interpretação); escreveu ainda sobre a Trindade (faz uma conotação teológica à exposição bíblica dessa doutrina); escreveu obras práticas e pastorais, além de muitas cartas que tratam de muitos problemas práticos que um administrador eclesiástico enfrenta no decorrer dos anos no seu ministério e muitas outras grandes obras  importantes.
                                 Sua Luta
Em 410 foi testemunha da tomada de Roma pelos visigodos de Alarico. E  ao morrer, em 430, presenciou a destruição do poderio romano na África do norte. Foi nesse mundo frustrado por lutas internas que Agostinho exerceu o ministério sacerdotal. A maior de suas lutas foi contra o pelagianismo; estes negavam o pecado original e aceitavam o livre-arbítrio afirmando que o homem tem o poder de vencer o pecado. Afirmavam que o homem podia pecar ou não pecar, logo, tinha vontade livre. Agostinho pela sua própria experiência, percebeu o erro disso.

                                Ensinamentos de Pelágio

Pelágio um monge britânico, nasceu por volta do ano 350 e muitos de seus escritos são conhecidos através das citações e alusões feitas em livros que se opõem a ele e o condenam, sua vida é cheia de mistérios assim como tantos outros hereges do cristianismo primitivo. Chegou em Roma, por volta do ano 400 ou 405 e viajou para a África do Norte, onde poderia ter conhecido Agostinho. Depois foi até a Palestina e escreveu dois livros sobre o pecado, o livre-arbítrio e a graça: Da Natureza e Do Livre-Arbítrio. Suas opiniões foram fortemente criticadas por Agostinho e seu amigo, Jerônimo,que tinha o ofício de tradutor e comentarista bíblico, que morava em Belém. Pelágio foi absolvido das acusações de heresias pelo bispo de Dióspolis na Palestina em 415, mas condenado como herege pelo bispo de Roma em 417 – 418 e pelo concílio de Éfeso em 413. Não se sabe o ano de sua morte, mas provavelmente, foi pouco depois de 423. Pressupõe que sua condenação pelo concílio de Éfeso tenha sido após sua morte. Sua intenção não er pregar um falso evangelho, senão o que aprendeu em sua juventude na Grã-Bretanha. Nunca negou qualquer doutrina ou dogma da fé cristã, nada declarado ortodoxo. Era um cristão moralista, se preocupava com a ação de atitudes e comportamentos de alto valor moral nas Igrejas, mas se opunha a certas crenças e práticas comuns de seus dias.
Aceitava o batismo infantil, mas negava a sua eficácia em remover pela lavagem a culpa herdada, rejeitava completamente a idéia do pecado original e não era o único, sendo que a maioria dos cristãos orientais também rejeitavam a idéia da culpa original ou herdada. Acreditava no livre-arbítrio e na necessidade da graça para a salvação, mas entendia que a graça dependia em parte de um atributo natural da pessoa, da revelação da vontade de Deus através da lei. Para Pelágio e Finney², era uma questão de vontade e não de herança.
 Ensinava que os seres humanos podem simplesmente decidir em obedecer a Deus o tempo todo e nunca pecar deliberadamente. Para opor-se e atacar o crescente ponto de vista de Agostinho de que o pecado original foi herdado de Adão. Sua célebre frase expressa claramente essa mentalidade, quando ele afirma “se eu devo, eu posso”. Se o pecado ou culpa que condena é inevitável, como podemos ser responsabilizados por isso? E por que não simplesmente relaxar e pecar ainda mais, já que é inevitável? E, se o bem que possamos fazer é dom de Deus, por que culpar as pessoas por pecar enquanto esperam receber o dom da bondade?
 Portanto o batismo infantil seria desnecessário, porque as crianças não possuem pecado hereditário ou original. Por isso, um homem é moralmente livre para escolher Deus e obedecer a suas leis (sendo assim nesses termos seria possível um homem ser salvo através da obediência perfeita à lei). Ao negar o pecado original, Pelágio estava negando a interpretação de Agostinho a esse respeito e por ter encontrado aceitação no Oriente. O que Pelágio negou a respeito à culpa herdada: 
a)      não acreditava que as crianças nasciam responsáveis diante de Deus por causa do pecado de Adão.
b)      O mal não nasce conosco e somos criados sem culpa.
c)      Todos nascemos em um mundo corrompido pelo pecado e que tendemos a pecar por causa dos maus exemplos de nossos pais e amigos.
Para Pelágio, pecado é uma questão de decisão e de consciência de querer fazê-lo ou seja, uma questão de livre-arbítrio, porque decide-se espontaneamente repetir o ato de Adão. Com isso afirmou que o ser humano necessitava da ajuda de Deus para fazer qualquer coisa boa, mas considerava que a lei e a consciência dadas por Deus eram suficientes. E que essa ajuda é mediante os seus ensinos e sua revelação, abrindo os olhos do nosso coração, para não nos preocupar com o presente, mas ensinando o futuro, as armadilhas do diabo e a dádiva da graça celestial. Logo, não precisamos de nada além da graça da Palavra de Deus e da nossa própria consciência. Quando foi questionado pelo bispo de Dióspolis em 415, Pelágio afirmou que a possibilidade de viver sem pecado era teórica e não concreta.
Nos casos de acusação de heresia contra Pelágio é difícil dizer o que ele acreditava e ensinava, é mais fácil apurar o que ele negava. Ele negava:
a)      A culpa herdada e a inevitabilidade do pecado;
b)      A necessidade da graça sobrenatural para obedecermos à lei de Deus e admitia a capacidade do livre-arbítrio;
c)      A perfeita obediência a lei de Deus é impossível para os seres humanos pecadores;

                             Posição de Agostinho

      Agostinho desenvolveu sua própria teologia da depravação humana, da soberania e graça de Deus. Tentou refutar não apenas a heresia de Pelágio da impecabilidade sem a graça, mas a certos monges e teólogos que defendiam alguns aspectos dos ensinos de Pelágio. Toda a soteriologia de Agostinho decorre de duas crenças principais:
a)      A absoluta e total depravação dos seres humanos depois da queda de Adão;
b)      O poder e a soberania absoluta de Deus;
     A interpretação de Agostinho a essas doutrinas foi resultado de um determinado debate com Pelágio e com seus defensores moderados, chamados semipelagianos. O conceito de Agostinho era respeito à depravação humana, sendo extremamente drástico. Segundo ele, todos os seres humanos fazem parte de uma “massa de perdição” e são totalmente culpados e condenados por Deus pelo pecado original de Adão. Dizia: “que além disso, a falha em nossa natureza permanece tão impregnada em nossos descendentes que os torna culpados, mesmo que a culpa pela mesma falha seja removida pelos pais através da remissão dos pecados”.pg.276(História da Teologia Cristã). Portanto, para Agostinho, até mesmo os filhos de pais cristãos nascem culpados e corrompidos por causa do pecado de Adão. Ao contrário de Pelágio, Agostinho acreditava que todos seres humanos, não somente nascem corruptos, já que o pecado é inevitável, mas também culpados do pecado de Adão e merecedores da condenação eterna, a ser quando são batizados para obter a remissão dos pecados e permanecem na graça pela fé e pelo amor. Para explicar a culpa universal herdada pelo pecado original, Agostinho baseou-se em um texto da epístola de Paulo aos romanos. O texto grego de Romanos 5:12  diz que a morte veio a todos seres humanos “porque todos pecaram”, Agostinho não leu o texto em grego, usou uma tradução pouco versada de Romanos que entendia erradamente a citação mencionada como “em quem” ou seja, “em Adão”, todos pecaram. Quando Agostinho leu Romanos 5:12, entendeu que a morte passou a todos os seres humanos porque todos pecaram por intermédio de Adão. Mas não é isso que o versículo diz na língua original. Então argumentaria que Romanos 5 e toda epístola aos romanos e os evangelhos ensinam que nós somos todos da raça de Adão e por isso herdamos sua culpa e sua corrupção. Por qual outra razão Jesus teria de nascer de uma virgem? Para Agostinho, explica, era porque a culpa e a corrupção do pecado são transmitidas as gerações seguintes pela procriação sexual e a natureza de Cristo só estaria livre do pecado se ele não fosse concebido pelo processo natural. Essa doutrina de Agostinho é chamada de “identidade seminal” entre os seres humanos e seu ancestral Adão. Por isso o batismo infantil, ele dizia que a criança recém-nascida, pessoa de meia idade ou de idade avançada é corrompida e culpada por causa de sua relação com Adão, que pode ser temporariamente desfeita com o batismo, mas é restabelecida quando a pessoa peca e por isso precisa ser desfeita pelo arrependimento e pela graça sacramental. Esse processo da graça transformadora se daria em um progresso genuíno, de tal maneira que a pessoa pudesse desfrutar uma vida de comunhão com Deus, livre da condenação e da corrupção do pecado original. Obra essa que era inteiramente da graça de Deus e não um produto do esforço humano ou do livre-arbítrio sem a graça auxiliadora de Deus. Agostinho argumentou que por causa da depravação e da corrupção herdada pelo pecado, o ser humano não tem liberdade para não pecar. Outra teoria errada que Agostinho era contra, a perda total do livre-arbítrio. Ele argumentava:
“O livre-arbítrio é simplesmente fazer o que se deseja fazer, sou livre para praticar qualquer aça, pois meu desejo e minha decisão de realizá-lo são suficiente para sua realização”. Pg.277 (História da Teologia Cristã). Quando a pessoa faz o que deseja a sua ação é livre. Segundo Agostinho as pessoas são livres para pecar, mas não livres para não pecar. Portanto, estão pecando livremente.
 Os três pontos que Agostinho defendeu:
a) a imutabilidade de Deus;
b) o princípio da livre criação, isto é, Deus não criou nada por imposição;
c) o diabo não era igual em força com Deus. Deus é o único criador.
Agostinho responde  a esses ensinamentos, afirmando a crescente crença católica sobre o pecado original por nascimento, a necessidade do batismo infantil, a incapacidade de um homem verdadeiramente escolher Deus, daí a grande necessidade da graça soberana e irresistível de Deus na salvação do homem, um ponto de vista  importante que foi adotado mais tarde na Reforma Protestante especialmente por João Calvino. Agostinho percebendo a incoerência doutrinária em sua obra Livre Arbítrio, resolveu escrever um outro livro que ele pode expressar suas idéias com mais afinco e firmeza, o intitulando Graça e Livre Arbítrio. Embora sustentasse a predestinação, em alguns de seus escritos ele não a expressava com coerência, pois esta doutrina continha erros doutrinários sobre o seu sacramentalismo³. Nesta sua derradeira obra , Da Predestinação dos Santos, ele chamou de “eleição incondicional” e “graça irresistível”. Isto é, Deus escolhe alguns dos seres humanos da perdição para receber a dádiva da fé pela graça e deixa outros em sua perdição merecida.   

         O Resultado da Controvérsia de Agostinho e Pelágio
 O Pelagianismo foi condenado oficialmente pela Igreja antiga nos concílios de Cartago (418 d.C.), de Éfeso (431 d.C.) e finalmente no Concílio de Orange II (529 d.C.). Embora o Pelagianismo fosse, então, formalmente condenado pela Igreja,ele sobreviveu na forma de um Semipelagianismo, que depois,  cresceu  no Catolicismo medieval com a crença da justificação pelas obras humanas. O Semipelagianismo  foi vigorosamente combatido pelos reformadores, que o denunciaram como heresia. A partir de então a Igreja Ocidental tornou-se oficialmente agostiniana em seu entendimento da doutrina da graça, todavia, essa oficialidade estava um tanto que longe da realidade dos clérigos e igrejas locais. Agostinho é visto pelos cristãos como um precursor da Reforma, por sua ênfase na salvação do pecado original e atual como resultado da graça de um Deus soberano, que salva irresistivelmente aqueles que elegeu. Quanto a discussão sobre como o homem ser salvo, Agostinho destacou a Igreja como instituição visível, com credo, sacramentos e ministério. Salientou essas coisas para combater de um lado os perlagianos e do outro os donatistas. Por isso sua insistência  de se  levar em conta o sentido da Bíblia, sua interpretação  e  um princípio de valor duradouro para a Igreja.